04/01/2016

A janela da locomotiva

Ando tão frustada, não consigo mais riscar minhas folhas de papel, nem um bom desenho ou uma boa história para rascunhar. Tentei até escrever uma que já houvesse criado, mas nada saía. Repeti quase todo o meu repertório de músicas para conseguir alguma coisa, mas nada... Então eu tentei aproveitar-me de minha situação para criar um personagem, tão frustrado quanto eu. Acredito ter conseguido algo de meu agrado, espero que gostem.


Meu chapéu voou com todas as minhas frustrações, jornais eram abertos e fechados o tempo todo, eu estava parado naquele lugar, sem bancos para descansar, minha mala estava pesada de mais. Eu estava partindo para longe. Estava cansado de ouvir tantas pessoas cochichando sobre mim, eles diziam que eu morreria logo, que eu estava virando um louco. Gostaria de não acreditar no que dizem, eu só quero partir e me livrar de tudo isso. Apenas a ausência de Juliet me afetará, mas eu sei que ela estará bem sem mim. 

Quase três e meia, minha locomotiva deve está próxima. Uma mistura de alegria e tristeza está crescendo em meu peito, um pequeno tremor está crescendo. Vovó havia dado-me um pequeno pacote com biscoitos e uma carta para abrir dentro da locomotiva, apenas ela sabia que eu estava realmente partindo, e jurou não contar a ninguém. Até agora ninguém realmente apareceu, então ela está sendo honesta comigo... Removi um dos biscoitos daquela embalagem de papel. Mordisquei. Biscoitos amanteigados. Talvez não encontre outros desses quando partir. Serão os últimos da vovó. Tentei guardar aquele pacote de biscoitos na mala. Consegui, por pouco. Retirei minha passagem. A locomotiva estava chegando na ferrovia. 

Após os passageiros anteriores saírem, um novo grupo entrava. Ouvi alguém chamando-me no meio daquela multidão. A frequência era baixa, ignorei, estava quase entrando no vagão dos passageiros quando alguém me puxou. Antes de conseguir ver quem me puxara, recebi um tapa em meu rosto. Minha bochecha devia ter ficado vermelha, estava ardendo. Vi lágrimas caírem de forma tão pesada, talvez nunca tenha visto olhos tão tristes. Algumas pessoas olharam em minha direção. Até mesmo o maquinista espiou um pouco. 

"Você é um tolo, Thomas! Como ousa partir? Vai mesmo deixar-nos aqui? Sozinhos?", Juliet estava soluçando enquanto dizia aquilo. "Não liga para a gente?!". Uma espécie de fúria e surpresa crescera em meu peito.

"Não estou abandonando ninguém, Juliet! Não vê o que aquelas pessoas fazem? Elas não ligam para mim, apenas minha avó. Apenas ela sabe minha razão de partir... Preciso sumir, talvez os cochichos diminuam, e eu, finalmente, possa viver feliz!", doeu dizer aquilo na frente de Juliet. O cobrador das passagens começou a chamar pelos últimos passageiros. E eu entrei, olhei fixamente para Juliet uma última vez.

"Espere...!", o som abafado de Juliet fez-me desmoronar, finas lágrimas caíram, o tapa não doía mais. Juliet estava com sua mão direita erguida. O trem começou a se afastar da plataforma. "Thomas!", ela continuava a chamar-me pelo nome.

Não aguentei e saí de onde estava, corri e fiquei na porta do vagão de passageiros, gritei para Juliet, ela correu o mais rápido que pode, apoiei-me com a mão esquerda e estendi a direita para que Juliet pegasse. Ela pulou, agarrou-me. A envolvi em meus braços e dei um beijo em sua testa. Falei baixinho em seu ouvido:

"Por que fez isso? Pensei que não se importasse comigo...", hesitei, um pouco acanhado e depois continuei "Desculpe-me, talvez estejamos encrencados, você não tem malas ou passagem...".

Os olhos de Juliet já não derramavam lágrimas, ela enxugou as que restaram em suas bochechas, sorriu para mim e declarou o seguinte:

"Você é mesmo um tolo, Thomas... Mas, desculpe-me por não entregar-lhe um "Sim" antes...", ela parou um pouco. "Hm, você já olhou a carta que sua avó te entregou? Tem algo que talvez você não tenha notado".

Seguimos para onde eu havia deixado minha mala. Retirei aquele envelope da mala, o abri. Algumas palavras foram rabiscadas pela minha avó e um bilhete caiu sobre meus pés. Esbocei um sorriso enquanto balançava a cabeça, estava surpreso e naquele momento agradeci minha avó. Dois minutos depois, o cobrador das passagens apareceu, Juliet e eu entregamos nossas passagens. Ele saiu com um sorriso simpático no rosto

Aconcheguei-me no meu assento, Juliet estava a minha frente, com uma expressão suave, olhava para a janela, talvez pensando no que estávamos deixando. Seus olhos depois voltaram-se para mim, curiosos, com uma voz bastante calma perguntou sobre nosso destino e apenas respondi: "Áustria, minha querida Juliet".


E aqui termina esta pequena história(gostaria que outro título mas fiquei sem boas opções). Thomas pôde livrar-se de seus problemas e está feliz, jamais havia pensado em Juliet à sua procura. Agora eles vão viver em alguma cidade Austríaca, espero que tenham gostado.

xoxo

12 comentários

  1. Texto lindíssimo, tem muito talento viu? <3

    www.luizlacks.com

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  2. Essa cena fez-me lembrar de um filme argentino chamado "o segredo dos seus olhos", no entanto a Juliet teve mais sorte que a moça do filme que foi deixada para trás na estação.

    Adorei o texto, muito bonito e bem escrito. Fico feliz que Juliet tenha chegado a tempo e que tenham ficado juntos, afinal. Sou uma romântica incorrigível.

    Bjs, Samantha.

    PS.: Adorei seu blog, estou seguindo.
    coracaoaflordapele.blogspot.com
    semprovas.blogspot.com

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    1. Nunca assisti à este filme, mas o adicionarei a minha lista.

      Obrigada, agradeço bastante pelo o que escreveu! Irei visitar seu blog logo.

      xoxo

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  3. Que texto maravilhoso, você escreve muito bem!

    Nevasca de Inverno

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  4. Que legal, você poderia fazer webséries \o/ com diversos temas :3.
    Pode ter várias imagens, tipo, nessa história, uma imagem de um trem, uma estação, uma mala, duas pessoas.
    Se quiser ajuda com as imagens, pode contar comigo//

    Studio-Help.blogspot.com.br

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    1. Waah *o*
      Obrigada!

      Oh, eu estava pensando em por várias imagens no meio dessa história, na verdade, uns desenhos meus mas acabei ficando sem tempo e sem folhas hehe... Mas eu realmente agradeço por oferecer ajuda, na próxima história pedirei sua ajuda :3

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  5. Belíssimo texto! Até me inspirou!
    Adorei o layout do seu blog, está muito bonito, de verdade!

    Com carinho,
    Piê.

    bloggotejar.blogspot.com

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  6. Você escreve de forma tão envolvente... Conto magnífico, meus parabéns! Traga mais desses pra gente, quando puder!

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Caro leitor,
Agradeço por ter lido alguma coisa e por ter comentado algo. Fique a vontade e volte sempre que desejar, ainda será bem-vindo.